5 de outubro de 2022

A construção do mundo através dos cinco sentidos

Adaptado de "João Correia Filho 01/06/2007"

Embora a compreensão que temos da realidade seja sempre mediada pelo cérebro, os olhos, ouvidos, boca, nariz e pele são as ferramentas essenciais na construção do que entendemos por realidade. 

TATO
Resistente, apesar de sua aparência delicada, a pele consegue diferenciar cinco sensações básicas: contato, pressão, frio, calor e dor. Funciona como um extraordinário scanner, com milhares de sensores que permitem decodificar a totalidade da informação tátil, levando-a da superfície da pele ao cérebro.
Além de uma camada de gordura, a hipoderme, que serve para controlar a temperatura do corpo, a pele também é formada por duas camadas superpostas: a derme e a epiderme. A primeira tem função de barreira e de filtro protetor da segunda, na qual se encontram os capilares sangüíneos, os nervos e os receptores táteis. São os receptores táteis os responsáveis pela tradução de parte das informações recebidas, que só então serão levadas pelos nervos ao córtex, no cérebro. 
Nos momentos mais perigosos a pele também age como um fantástico detector de perigo: a dor associada ao tato nos protege de agressões exteriores e, na maior parte do tempo, é seguida de reflexos que as evitam. 

AUDIÇÃO
Tudo começa com a propagação das ondas sonoras, que seguem através do ar da mesma forma que as ondas do mar desembocam na areia da praia. O processo repete-se continuamente até que a onda, enfim, alcance a orelha, que capta e interpreta as ondas sonoras. O som corresponde a uma vibração que provoca mudança de pressão; portanto, ouvir depende inicialmente de um processo mecânico, estudado por uma das áreas da física, a acústica.
Essa primeira parte do processo acontece no ouvido externo, que é formado pelo pavilhão auricular e pelo canal auditivo, um tubo de aproximadamente três centímetros que conduz ao tímpano. Já o tímpano, uma membrana hipersensível, é responsável por captar as variações das ondas sonoras, e atua, mais ou menos, como a pele em um tambor. Mas cuidado: esse “tambor” é muito delicado, e as células que compõem nosso sistema auditivo não se reconstituem.
A vibração captada pelo tímpano passa então pelo ouvido médio, formado por três ossinhos: o martelo, a bigorna e o estribo. Através deles é conduzida ao ouvido interno, formado por um meio líquido que abriga dois conjuntos distintos: a cóclea (ou caracol), que permite a audição, e o labirinto, órgão do equilíbrio. Ao ser transmitida ao ouvido interno, a vibração é captada pelas células do caracol, que a interpretam em três etapas: inicialmente, amplificam as vibrações, depois as transformam em impulsos nervosos e, finalmente, as enviam ao cérebro. Assim, o córtex cerebral capta e interpreta a mensagem, e devolve a sensação auditiva, como para confirmar o recebimento. É assim que ouvimos.

OLFATO
O nariz é composto por duas fossas nasais, cavidades revestidas de mucosas e abertas do lado das narinas. As fossas nasais umidificam e filtram o ar graças ao muco e aos cílios que revestem as mucosas. O ar, carregado de odores, é captado por esses “pelinhos” localizados no topo do canal da narina. São eles que traduzem as sensações olfativas em impulsos nervosos que serão transmitidos ao cérebro, onde tais informações são interpretadas e armazenadas. 
Um sentido poderoso, o olfato também serve como uma espécie de sinalizador, que nos permite perceber e caracterizar o mundo que nos cerca, reconhecer uma pessoa, identificar uma alimentação boa ou má e apurar o gosto durante a mastigação.
Também é fácil perceber a importância do odor em nossa vida quando estamos com gripe. Já reparou que os alimentos perdem o sabor? É que o que entendemos por gosto é processado também pelo nariz, ou seja, o gosto é composto também pelo cheiro. 

PALADAR
E é na língua que tudo acontece. É ali que se inicia a formação do bolo alimentar e é dali que são transmitidas ao cérebro as primeiras informações acerca dos alimentos que acabaram de ser ingeridos. Formada de músculos revestidos por uma fina mucosa, ela é coberta de pequenas saliências – as papilas gustativas –, divididas em quatro regiões, cada uma dedicada a um tipo de sabor: as sensações de doce estão localizadas na ponta da língua, as de salgado nas partes laterais, as de azedo nas porções posteriores e a sensação de amargo, no meio. 

VISÃO
Pensar em como funcionam nossos olhos nos remete imediatamente à imagem da objetiva de uma máquina fotográfica moderna. E não é à toa: essas duas ferramentas de alta precisão guardam semelhanças em sua estrutura que ajudam a entender o complexo órgão da visão.
O que nas objetivas chamamos de diafragma, um mecanismo que abre e fecha para entrar mais ou menos luz, nos olhos temos a pupila (no centro) e a íris (ao redor) que cumprem essa mesma função. Repare em como aquele círculo mais redondo no centro do olho, a pupila, abre e fecha de acordo com a quantidade de luz do ambiente. Já o cristalino, tal como o jogo de lentes que existe dentro de uma objetiva, muda de formato e ajusta-se até regular a nitidez, até dar o foco, como se diz em fotografia.
A imagem então atravessa o olho e segue para fixar-se na retina, que funciona exatamente como em um filme – no caso da retina são 130 milhões de células nervosas, o que podemos comparar a um filme de alta precisão e hipersensível. Mas é aí que começam as diferenças entre os dois mecanismos. Embora sejamos dotados de uma perfeita máquina de enxergar – os nossos olhos –, com um intricado sistema óptico, é necessário que toda essa informação seja interpretada em nossa mente.
O ato de enxergar, desde o momento em que a luz adentra nossa retina até o momento em que essa luz é interpretada pelo cérebro, pode ser comparado então ao ato de se fazer uma fotografia. As informações da imagem fixada na retina são transmitidas imediatamente por um nervo óptico até o córtex visual, zona do cérebro responsável pela interpretação de tudo que entra por nossos olhos. Decodificados, os raios luminosos captados são traduzidos como um objeto, um rosto conhecido, uma paisagem.
Uma forma de perceber essa relação entre cérebro e visão está no simples fato de que possuímos dois olhos: fechando um e depois o outro você vai perceber que são duas imagens diferentes, uma captada mais à direita e outra mais à esquerda, com alguns centímetros de diferença. No entanto, você está vendo apenas uma imagem, pois seu cérebro processa as duas e as junta em uma só. 

Fonte: https://www.revistaplaneta.com.br/a-construcao-do-mundo-atraves-dos-cinco-sentidos/

Nenhum comentário:

Postar um comentário